sábado, 7 de novembro de 2009

O USO DO JORNAL COMO INSTRUMENTO DE ENSINO-APRENDIZAGEM






Uma das principais críticas que se tem feito contra o ensino brasileiro é o distanciamento dos conteúdos curriculares das necessidades reais que o estudante enfrenta ao sair da escola, e para as quais não foi preparado.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam um grande avanço, porém, não surtirão o efeito desejado se os professores não forem conscientizados sobre as novas perspectivas que se abrem e não forem capacitados para agregarem à sua prática conteúdos e metodologias indispensáveis para atender as necessidades urgentes dos indivíduos e da sociedade.
Neste contexto, o jornal pode ser utilizado como um recurso, por excelência, para introduzir a discussão de problemas cruciais que enfrentamos como a violência, crise ética, falta de emprego, velocidade das mudanças, massificação e precocidade sexual, entre outros. Entretanto, não basta discutir a informação contida no jornal. É preciso mostrar aos professores como ir além da discussão e ter ferramentas visando preparar os educandos para encontrarem soluções.
As próprias diretrizes dos Parâmetros Curriculares elegeram o jornal como principal ferramenta que possibilita à escola viver a realidade, quando citam a necessidade dos professores utilizarem os "textos do mundo".
Já são inúmeras as evidências que demonstram as vantagens e benefícios da utilização do jornal na educação, como uma importante ferramenta de ensino e aprendizagem. Entretanto, muitos tabus ainda persistem relacionados ao uso pedagógico do jornal. Para removê-los, a autora da obra Jornal na Educação - considerações pedagógicas e operacionais - Sílvia Costa, aceitou o convite da redação da revista Aprender para coordenar o desenvolvimento de uma série de matérias enfocando o uso do jornal na educação.
Além de escritora, Sílvia é coordenadora do Programa "Jornal Escola e Comunidade" desenvolvido pelo jornal A Tribuna, na cidade de Santos-SP. Nos últimos anos já assessorou mais de 15 jornais brasileiros na implementação de projetos semelhantes.
Para Sílvia, o jornal não é livro didático. Por isso, ao ser introduzido na sala de aula, requer preparo dos professores, orientando-os sobre os propósitos maiores do programa Jornal na Educação , sugerindo posturas adequadas e estratégias eficazes para despertar nos alunos o interesse pela busca de informações e a formação de habilidades e atitudes decorrentes da prática da leitura.
O uso do jornal de forma fragmentada ou limitado aos propósitos restritos de disciplinas curriculares empobrece as possibilidades a serem exploradas. A formação do leitor consciente e participante é o principal objetivo do programa e, embora pareça óbvio, nem sempre isto é priorizado na prática escolar.
"O jornal é uma rica fonte de informações. Se for 'didatizado', servindo apenas para exploração de conteúdos curriculares pré-determinados, não atenderá aos seus objetivos prioritários, que é o incentivo à leitura e à formação de leitores, conforme explica Sílvia Costa."
A dinâmica do jornal possibilita a reciclagem cultural do professor, a quebra da rotina estagnante para acompanhar o fluxo das mudanças e as exigências de atualização permanente.
Trabalhar questões como a mutabilidade dos tempos, a relação quantidade versus qualidade das informações, a seletividade e a organização das informações que nos chegam diariamente, passa a ser o atual desafio dos professores que desejam sair da mediocridade da educação tradicional.
Uma das prioridade para os projetos dos jornais na área de Educação deve ser a cultura regional, diz Sílvia Costa. Ela explica melhor através de um exemplo: "Nós, aqui em Santos, temos o maior porto da América Latina, mas em grande parte da rede de ensino não se dá a menor atenção a isso". Desde 1993 o programa Jornal, Escola e Comunidade, que tem o apoio cultural da Rhodia, passou a desenvolver ações nesse sentido, na área de Cultura Marítima e Portuária.
As possibilidades de contextualização com a realidade que o uso do jornal pode proporcionar são inúmeras, como neste exemplo apresentado por Sílvia Costa: "Ao calcular os rendimentos da poupança, ou o percentual de acréscimo nas compras a prazo, o aluno percebe a necessidade do domínio da matemática para o desempenho da vida diária. Ao deparar-se com notícias sobre poluição, contaminação, lixo tóxico, terá que, necessariamente, recorrer aos princípios básicos de ciências, física e química para entender melhor os fatos".
O processo participativo e vivencial com o uso do jornal é também significativo, indo desde a pesquisa e seleção da matéria, até o debate, a discussão, interpretação e a proposta de soluções. A experiência ainda pode ir além, quando há oportunidade de participação efetiva do aluno no processo em questão, como por exemplo em matérias ou notícias sobre problemas no seu bairro, atividades comunitárias e culturais, decisões políticas, informações científicas, entre outras.
As informações oriundas do jornal podem criar "ganchos" que facilitam a abordagem de assuntos pouco trabalhados na escola, tais como desenvolvimento afetivo, problemas emocionais, agressividade e violência, drogas, sexualidade, meio ambiente, cidadania e organização existencial (metas e objetivos existenciais, vocação, profissão, etc).
Também no campo do desenvolvimento cognitivo o jornal pode seu muito útil. Com o uso do seu, o aluno pode ser levado a exercitar várias operações mentais, tais como comentar, explicar, opinar, selecionar, seriar, discriminar, comparar, induzir, deduzir, sintetizar, classificar, interpretar, justificar, concluir, entre outras.
Os profissionais do jornal também devem ser orientados sobre as vantagens que a formação de novos leitores pode trazer para eles. Por outro lado, devem ser conscientizados sobre a análise crítica do jornal que é feita em sala de aula e como este fato pode ser tratado para contribuir para a melhoria da qualidade do produto.
O estudante que utiliza o jornal em sala de aula hoje será o leitor crítico, exigente e esclarecido de amanhã. Este movimento sucessivo de conscientização e formação de leitores levará, em um curto período de tempo, a pressionar os veículos de comunicação a melhorar cada vez mais a sua qualidade.

Os programas de Jornal na Educação
No mundo todo encontramos programas que visam à utilização do jornal na educação. Nos Estados Unidos existe o NIE (Newspaper In Education), atualmente com mais de 1000 jornais atuantes. Na França existe o CLEMI (Centro de Ligação do Ensino e dos Meios de Informação). Na Argentina, há um programa de repercussão nacional - El Diário en la Escuela - coordenado pela Associação dos Diários do Interior da República Argentina (ADIRA), que realiza um congresso anual de repercussão internacional, intitulado de "Los Medios de Comunicación y la Educación."
No Brasil, o primeiro jornal a desenvolver um programa de Jornal na Educação foi o Zero Hora, de Porto Alegre e, segundo informações da ANJ, atualmente apenas 40 jornais no país desenvolvem programas de Jornal na Educação.
Cada jornal apresenta um programa com características peculiares, porém, em linhas gerais, todos os programas visam fornecer às escolas determinadas cotas de jornais, sem ônus, e também, orientação aos professores quanto ao seu uso pedagógico. Geralmente, cada jornal apresenta um coordenador do programa, responsável pelo intercâmbio com as escolas.
Alguns jornais mantém seções semanais, outros cadernos mensais, que servirão como elemento de intercâmbio dele com as escolas que fazem do programa. Estes jornais, quase sempre oferecem um acompanhamento pedagógico apropriado, associado a um material de apoio didático de qualidade, visando orientar quanto ao uso do jornal em cada uma das disciplinas do currículo escolar.
As iniciativas públicas nesta área são poucas. Destaca-se o programa do Governo do Distrito Federal que financiou 500 assinaturas de jornais diários para escolas da rede pública. O programa atendeu mais de 100 mil alunos do ensino médio e fundamental. O financiamento partiu da Fundação Educacional do Distrito Federal (FEDF), que também foi a responsável pelo treinamento pedagógico dos professores.
A importância dos programas de Jornal na Educação reside nas possibilidades que o mesmo apresenta para revitalizar, dinamizar e reperspectivar a educação, contextualizando-a e aproximando-a do cotidiano das pessoas e atingindo a sua função real de transformadora do indivíduo e da sociedade.
A revista Aprender estará lançando em breve, uma série de Cadernos Didáticos para orientação quanto ao uso do jornal na educação, de forma multidisciplinar, visando a atender todas as disciplinas de ensino médio e fundamental.
Objetivos do Programa de Jornal na Educação
* Desenvolver a empatia aluno/jornal, possibilitando ao leitor em potencial manipular o material concretamente e se familiarizar com ele.
* Desenvolver o gosto e o hábito de leitura de jornal.
* Estimular o aluno a se manter informado sobre assuntos de interesse particular e comunitário.
* Estimular o aluno à discussão de sua realidade, desenvolvendo o espírito crítico, pensamento lógico e criativo, tendo em vista a formação do cidadão consciente e participante.
* Possibilitar ao aluno e ao professor o enriquecimento de seu universo existencial, inteirando-se do que se passa em outras regiões, nos mais diversos setores da atividade humana, através do jornal e das pesquisas que ele suscita.
* Viabilizar a utilização do jornal como recurso de apoio didático para todas as disciplinas curriculares.
* Promover a integração entre o currículo escolar e a realidade do dia-a-dia.
* Incentivar a aproximação familiar, tornando menor a distância entre as gerações da família, através da discussão de temas em comum.
* Conscientizar e promover o exercício da cidadania, discutindo os problemas da comunidade e buscando soluções.
* Atender à proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN's, que indicam a utilização dos "Textos do Mundo", nas salas de aula.
* Desenvolver o processo da aprendizagem, exercitando as capacidades operacionais da mente do aluno: atenção, observação, discriminação, comparação, classificação, análise, argumentação, síntese, indução, dedução, que possibilitarão uma postura de pesquisa, crítica e atuação bem fundamentada, coerente e construtiva.

Texto extraído do livro Jornal na Educação de Sílvia Costa

Dicas de jornais sobre Educação
Alguns Programas de Jornal na Educação no Brasil
Amazonas (AM) A Crítica A Crítica na Escola
Bahia (BA) A Tarde A Tarde na Escola
Ceará (CE) Diário do Nordeste Jornal na Sala de Aula
Distrito Federal (DF) Correio Braziliense Correio Escolas
Gazeta Mercantil Gazeta Mercantil na Universidade
Espírito Santo (ES) A Gazeta A Gazeta na Sala de Aula
Goiás (GO) O Popular Almanaque-Escola
Minas Gerais (MG) Correio Correio Educação
Estado de Minas EM Vai às Aulas
Mato Grosso do Sul (MS) Correio do Estado Correio e Escola
O Progresso O Progresso na Educação
Pará (PA) O Liberal O Liberal na Escola
Pernambuco (PE) Diario de Pernambuco Leitor do Futuro
Jornal do Commercio JC nas Escolas
Piauí (PI) O Dia O Dia na Escola
Paraná (PR) Folha de Londrina Projeto Cidadania
Gazeta do Povo Ler & Pensar
Folha de Palotina Fazendo Escola
O Diário do Norte do Paraná O Diário na Escola
Rio de Janeiro (RJ) O Dia O Dia na Sala de Aula
O Globo Quem Lê Jornal Sabe Mais
Rio Grande do Norte (RN) Diário de Natal Projeto Ler
Rio Grande do Sul (RS) A Razão A Razão de Ler
Jornal NH NH na Escola
Zero Hora ZH na Sala de Aula
Santa Catarina (SC) A Notícia A Notícia na Escola
Folha do Oeste Jornal na Escola
São Paulo (SP) A Tribuna Jornal, Escola e Comunidade
Correio Popular Correio Escola
Diário da Região O Jornal na Educação
Diário de Sorocaba Diário Educação
Diário de Suzano DS Escola
Diário do Povo Diário Educação
Diário Popular O Jornal na Sala de Aula
Folha da Região Folha da Região na Sala de Aula
Folha de São Paulo Folha Educação
Jornal de Jundiaí JJ na Educação Regional
Jornal de Piracicaba JP na Escola
O Estado de S. Paulo Estadão na Escola
Fonte: Associação Nacional de Jornais (ANJ) e Associação Brasileira dos Jornais do Interior (ABRAJORI)

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