0 caminho da produção do conhecimento, preocupação essencial na modernidade, tem encontrado suporte em metodologias que se proponham a ultrapassar a reprodução, a repetição e a cópia nos meios acadêmicos. Com a proposta de alterar este panorama de estagnação no ensino das universidades e nas escolas em geral, optou-se por elencar a proposição do "aprender a aprender" desenvolvida por Pedro Demo como marco norteador para construir novas metodologias criativas no trabalho docente.
A contribuição de Demo (1992) torna-se significativa, quando propõe:
"0 que marcaria a modernidade educativa seria a didática do aprender a aprender, ou do saber pensar, englobando, num todo só, a necessidade de apropriação do conhecimento disponível e seu manejo criativo e crítico. A primeira necessidade é da ordem dos insumos instrumentais, enquanto a segunda perfaz mais propriamente o desafio humano da qualidade. A competência que a escola deve consolidar e sempre renovar é aquela fundada na propriedade do conhecimento como instrumento mais eficaz da emancipação das pessoas e da sociedade. Neste contexto, mera transmissão é pouco, embora como insumo seja indispensável. Em termos emancipatórios, competência jamais coincidiria com cópia, reprodução, imitação. Torna-se essencial construir atitude positiva construtiva, crítica e criativa, típica do aprender a aprender". (Demo, 1992, p.25)
A proposição desafiadora do ensino com pesquisa que decorreria no aprender a aprender, torna-se uma manifestação corajosa, pois propõe alteração profunda na prática pedagógica da sala de aula. Transpor a cópia, a imitação e a repetição encrustada no ensino das escolas parece tarefa difícil de ser realizada.
A atitude de pesquisa tem-se apresentado como alavanca de qualidade em vários segmentos de ensino no país, desde a educação infantil até a pós-graduação. 0 longo dimensionamento proposto pela pesquisa atinge a todos os profissionais envolvidos na educação. 0 espaço educativo amplia-se na sociedade moderna e não se restringe ao ambiente escolar A pesquisa tem sido atitude cotidiana nas crianças e nos jovens que se defrontam com os instrumentos informatizados. Portanto, os conhecimentos não se restringem à repetição dos outros, mas prevê a criação / produção do conhecimento próprio.
Cabe, neste contexto a indagação: o processo metodológico utilizado na grande maioria das escolas apoiado numa abordagem reprodutivista instrumentaliza estas gerações a adentrarem com competência o mercado do trabalho?
0 ensino em todos os níveis e, principalmente, no ensino superior perdeu o caráter de terminalidade. 0 mundo moderno não autoriza um profissional a ter sucesso e competência, se não for um investigador / um pesquisador permanente na sua área. Assim, os conteúdos transmitidos nas universidades não alicerçam toda a vida profissional dos estudantes. A proposição do aprender a aprender abre a visão de que a educação não tem fim, renova-se dia a dia e avança rapidamente para uma sociedade moderna, provocando um processo ininterrupto de atualização. A instrumentalização do aprender a aprender acompanha o profissional e abre caminho para acessar a universa1ização das conquistas da ciência e das técnicas.
Rodrigues (1993) amplia esta visão:
"E podemos concluir, afirmando que o homem moderno se acha ligado agora a todos os homens do presente e do passado, ao contemporâneo e ao ancestral. Se antes da modernidade podíamos estabelecer a nossa ligação com os antepassados através da profissão das mesmas crenças, valores, formas de racionalidade e traços culturais, hoje nos ligamos com todos os contemporâneos através destes laços e mais com a cadeia de informação". (p.60)
0 avanço se agiganta e torna-se inevitável. A educação necessita urgente de abrir espaços para novas perspectivas. A proposição metodológica de aprender a aprender envolve mais que a vontade de usar um meio novo para ensinar, ela propõe que alunos e professores passem a ter produção própria, que sejam criativos e inovadores. Não se trata só de acessar as informações existentes (ponto de partida), mas utilizá-las para construir um novo e próprio conhecimento.
As relações, as partilhas, as trocas e a produção coletiva são pressupostos novos para a realidade escolar. Os traças desafiadores do mundo moderno (fax, computador, telefone, telex) aproximam pessoas, fatos e acontecimentos. Os homens, que já se tornaram usuários dessas conquistas, na modernidade precisam encontrar nos meios educativos propostas que coadunem com as exigências do mundo moderno, e o aprender a aprender amplia a possibilidade restrita de decorar e responder perguntas. Os hábeis estudantes precisam aprender formular perguntas, perseguir caminhos em busca de respostas. Errar para aprender. Desafiar para criar. Ousar para construir novos conhecimentos.
Com esta perspectiva, Demo (1991) esclarece:
"Quem ensina carece pesquisar, quem pesquisa carece ensinar. Professor que apenas ensina jamais o foi. Pesquisador que só pesquisa é elitista explorador, privilegiado e acomodado". (p.14)
0 alerta do autor torna-se pertinente, pois a comunidade européia tende a elitizar a pesquisa. A sua proposta apresenta a pesquisa como "atitude processual de investigação diante do desconhecido e dos limites que a natureza e a sociedade nos impõe", e, mais, com visão emancipatória apresenta a pesquisa como trajeto educativo como princípio científico e educativo. A pesquisa a que Demo se refere não restrita a laboratórios, mas atividade cotidiana em que o aluno desafiado, torna-se dono do problema, fica perturbado, estimulado, instigado a buscar ajuda na literatura e, com profissionais da área, a acessar recursos tecnológicos, a montar o mosaico das informações, a discutir e criticar, e com isto construir seu próprio conhecimento.
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